A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) alertou nesta terça-feira (19) sobre a grave situação da qualidade dos suplementos alimentares no mercado brasileiro. Durante audiência pública na Comissão de Defesa do Consumidor da Câmara dos Deputados, representantes da agência revelaram que o setor lidera o ranking de denúncias por infrações sanitárias.
Setor concentra maioria das denúncias sanitárias
Segundo Renata de Araújo Ferreira, coordenadora de fiscalização da Anvisa, entre 2020 e 2025, 63% dos processos de investigação abertos pela agência envolviam suplementos alimentares. Mais da metade das denúncias está relacionada à propaganda enganosa de produtos vendidos em plataformas digitais, dificultando o rastreamento e fiscalização.
"O comércio eletrônico entra como um ator bastante crítico, pois existem empresas que se aproveitam desse ambiente virtual para colocar produtos clandestinos de origem desconhecida que chamam de suplementos alimentares", destacou a coordenadora.
Alto índice de reprovação em análises
Patrícia Ferrari Andreotti, gerente do departamento de alimentos da Anvisa, informou que até julho de 2025, a agência avaliou 423 novos suplementos, reprovando 277 produtos - uma taxa de reprovação de 65%. O principal motivo é a ausência do estudo de estabilidade, que comprova a manutenção das propriedades nutricionais durante o prazo de validade.
Atualmente, 207 empresas estão no "canal vermelho" da Anvisa, apresentando irregularidades como uso indevido de marcas e inclusão de substâncias não autorizadas na composição dos produtos.
Inteligência artificial no combate às irregularidades
Para enfrentar o problema, a Anvisa pretende usar ferramentas de inteligência artificial para agilizar a identificação de produtos irregulares na internet. A tecnologia já foi testada e resultou na exclusão de mais de 230 mil anúncios, sendo cerca de 60 mil relacionados a suplementos alimentares.
Nova regulamentação em setembro
A partir de setembro de 2025, a regularização de suplementos alimentares na Anvisa será feita exclusivamente por meio de notificação obrigatória. O deputado Felipe Carreras (PSB-PE) anunciou que apresentará projeto de lei estabelecendo responsabilidade criminal para fabricantes em casos de irregularidades na composição dos produtos.