Setor ferroviário busca ampliar acesso ao Fundo Nacional sobre Mudança do Clima para investimentos

O setor ferroviário brasileiro está buscando maior acesso aos recursos do Fundo Nacional sobre Mudança do Clima para ampliar investimentos na área. O tema foi debatido em audiência pública na Comissão de Viação e Transportes da Câmara dos Deputados, onde especialistas apontaram entraves e oportunidades para o financiamento de projetos ferroviários com foco ambiental.

Desafios para acesso ao Fundo Clima

O secretário nacional de Mudança do Clima, Aloisio Lopes Pereira de Melo, explicou que o comitê gestor do fundo recebe anualmente pedidos para ampliar o uso dos recursos pelo setor ferroviário. No entanto, destacou a necessidade de avaliar os impactos de forma ampla, considerando que a abertura de novas áreas pode gerar efeitos indiretos como expansão urbana e atração de atividades econômicas com reflexos ambientais.

Benefícios ambientais das ferrovias

Leonardo Cezar Ribeiro, secretário nacional de Transporte Ferroviário do Ministério dos Transportes, defendeu que as ferrovias trazem benefícios significativos ao meio ambiente. Citando estudos do Banco Mundial, afirmou que "transportar toda essa carga da região central para os portos por rodovias promove desmatamento e danos ao meio ambiente muito superiores aos da infraestrutura ferroviária".

Setor movimenta R$ 200 bilhões em investimentos

Davi Barreto, diretor-presidente da Associação Nacional de Transporte Ferroviário, destacou que o setor movimenta 20% da carga nacional, incluindo 95% do minério exportado. Desde a desestatização nos anos 1990, os investimentos somaram R$ 200 bilhões, sendo apenas 2% de origem pública. O executivo apontou que a alta taxa de juros (Selic de 15%) dificulta novos projetos, já que um quilômetro de ferrovia custa entre R$ 20 milhões e R$ 30 milhões.

Expansão do financiamento pelo BNDES

O representante do BNDES, Tiago Ferreira, informou que o Fundo Clima passou a financiar projetos ferroviários em 2024, inicialmente restritos a ferrovias elétricas. Para 2025, a abrangência foi ampliada para incluir transporte híbrido e a biocombustíveis, com financiamentos de até 34 anos para amortização.

Impacto na redução de emissões

O deputado Ricardo Ayres (Republicanos-TO) ressaltou que aumentar em apenas 1% a participação das ferrovias na matriz de transporte reduz a emissão de 2 milhões de toneladas de CO₂, equivalente ao replantio de uma área florestal do tamanho da região metropolitana de São Paulo. Os trens emitem até sete vezes menos poluentes que os caminhões, segundo dados apresentados.