Uma audiência pública realizada na Câmara dos Deputados nesta quarta-feira (23) evidenciou a grave ausência de políticas públicas voltadas à saúde mental da população idosa no Brasil. Especialistas apontaram que o próprio levantamento 'Saúde Mental em Dados de 2024', do Ministério da Saúde, sequer menciona pessoas acima de 60 anos.
Preconceitos estruturais prejudicam políticas para idosos
Karla Giacomin, presidente da Frente Nacional de Fortalecimento das Instituições de Longa Permanência para Idosos, destacou que a ausência de políticas específicas reflete preconceitos enraizados na sociedade. "O primeiro é o familismo e o sexismo, ou seja, a família tem que cuidar e, dentro da família, uma mulher tem que cuidar. O segundo preconceito que justifica essa falta de investimento é o idadismo, porque como é uma política para pessoas mais velhas, não vale a pena", explicou a médica especializada em cuidados de idosos.
Institucionalização e saúde mental
De acordo com Kenio Costa Lima, diretor de Proteção da Pessoa Idosa do Ministério dos Direitos Humanos, o Brasil possui 1.942 abrigos com vagas públicas que acolhem mais de 70 mil idosos. Ele alertou que o próprio processo de institucionalização pode comprometer a saúde mental dessas pessoas: "A necessidade de compartilhar normas coletivas, a redução da rede social, do trabalho, da independência financeira, a perda da liberdade, o abandono da família, tudo isso impõe desvios severos aos planos de vidas das pessoas idosas e leva a esse adoecimento de saúde mental."
Dados alarmantes sobre transtornos mentais
Pedro Paulo Bicalho, presidente do Conselho Federal de Psicologia, apresentou dados da Organização Mundial da Saúde que indicam que aproximadamente 15% das pessoas com mais de 60 anos apresentam algum transtorno psíquico, especialmente depressão e ansiedade. No contexto brasileiro, esse percentual chega a 14% da população idosa. Entre os fatores que contribuem para esses problemas, destacam-se as perdas afetivas e o isolamento social.
O governo federal informou que está elaborando o Plano Nacional de Direitos da Pessoa Idosa, que terá como um dos eixos a busca por mecanismos para manter o papel social e a autonomia das pessoas idosas. A audiência foi realizada em conjunto pelas comissões de Defesa dos Direitos da Pessoa Idosa e de Saúde, por iniciativa da deputada Flávia Morais (PDT-GO).