O delegado da Polícia Federal Carlos Henrique de Sousa revelou nesta quarta-feira (28), durante audiência na Câmara dos Deputados, que a Operação sem Desconto, que investiga descontos irregulares em benefícios do INSS, ainda está em fase inicial e pode revelar um esquema muito mais amplo.
Dimensão da fraude
Segundo relatório da Controladoria-Geral da União (CGU), os descontos indevidos em aposentadorias e pensões repassados a 11 entidades investigadas somaram aproximadamente R$ 6,3 bilhões entre 2019 e 2024. O Ministério da Fazenda estima que o ressarcimento aos aposentados deverá ficar entre R$ 1 bilhão e R$ 2 bilhões.
"Esse total é muito grande, mas não espanta, infelizmente", afirmou Sousa. O delegado explicou que, como a movimentação da Previdência Social ultrapassa R$ 1 trilhão, "todas as fraudes, quando a gente aprofunda, realmente têm valor substancial".
Estrutura da investigação
Atualmente, além do inquérito principal em Brasília, existem 13 investigações em seis estados diferentes. Cerca de 50 servidores da PF estão envolvidos na operação, número considerado insuficiente pelo deputado Delegado Paulo Bilynskyj (PL-SP), que criticou a falta de empenho do governo federal.
O delegado Carlos Henrique de Sousa defendeu o uso de biometria como medida preventiva contra fraudes. "A PF sempre recomendou isso ao INSS. Alguns colegas apuraram no mestrado que, com a biometria, 58% delas poderiam ser evitadas", explicou.
Controvérsias políticas
A audiência foi marcada por críticas à ausência do diretor-geral da PF, Andrei Rodrigues. O deputado Marcel van Hattem (Novo-RS) questionou declarações de Rodrigues sobre o Sindicato Nacional dos Aposentados, Pensionistas e Idosos (Sindanpi) estar fora das investigações. A entidade tem como diretor Frei Chico, irmão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O esquema investigado envolve sindicatos, associações e servidores do INSS que teriam realizado descontos não autorizados em benefícios previdenciários. Os repasses associativos estão atualmente suspensos enquanto o governo estuda como proceder com a devolução dos valores.
A investigação teve como ponto de partida um relatório da CGU, mas o delegado ressaltou que "isso é muito comum, mas obviamente não é o único elemento das investigações".