O diretor-presidente da Eletronuclear, Raul Lycurgo, revelou durante audiência pública na Comissão de Minas e Energia da Câmara dos Deputados que a paralisação das obras da usina nuclear de Angra 3 custa R$ 1 bilhão por ano aos cofres da estatal. O encontro, realizado nesta terça-feira (27), reuniu especialistas e parlamentares para discutir o futuro do empreendimento, que está paralisado desde 2015.
Custos da paralisação
Segundo Lycurgo, o valor anual de R$ 1 bilhão é distribuído em três principais despesas: R$ 800 milhões para pagamento de financiamentos já contratados, R$ 120 milhões para conservação dos equipamentos adquiridos e R$ 100 milhões destinados à folha de pagamento dos funcionários contratados especificamente para o projeto.
"O pior tipo de investimento em infraestrutura é aquele que está parado, porque ele gera apenas gastos, sem trazer nenhum retorno em termos de operação ou serviço", afirmou o presidente da estatal, que também revelou ter solicitado aos bancos financiadores (Caixa Econômica Federal e BNDES) um adiamento do pagamento das dívidas até 2026.
Retomada ou abandono: os custos
Um estudo realizado pelo BNDES a pedido da Eletronuclear, divulgado em 2024, apontou que o custo para retomar as obras seria de R$ 23 bilhões, valor ligeiramente superior ao estimado para o abandono completo do projeto (R$ 21 bilhões). Atualmente, 67% da obra está concluída, e quando finalizada, a usina terá capacidade de 1,4 gigawatts, o dobro da geração de Angra 1.
O representante do Tribunal de Contas da União (TCU), Marcelo Leite Freire, alertou durante o debate que "o custo de não tomar uma decisão sobre o que fazer com Angra 3 é o pior de todos". O presidente da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), Francisco Rondinelli Junior, também defendeu a continuidade do projeto, destacando a necessidade de investimento em usinas de geração de base, que operam sem interrupções.
Apoio parlamentar
O deputado Julio Lopes (PP-RJ), que solicitou a audiência pública, propôs que a Comissão de Minas e Energia interceda junto aos bancos para a aprovação do adiamento da dívida. "Vou sugerir ao nosso presidente, Diego Andrade (PSD-MG), que a nossa comissão peça formalmente aos dois bancos a aprovação desse waiver", disse, recebendo apoio do deputado Reimont (PT-RJ).
A Eletronuclear aguarda agora uma decisão do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) sobre a possibilidade de retomada do projeto, enquanto especialistas alertam para os riscos de um possível colapso energético caso o país não invista em fontes de energia contínua e regulável.