Governo brasileiro mantém estratégia de negociação para enfrentar tarifas americanas

29/04/2025 19:30 Central do Direito
Governo brasileiro mantém estratégia de negociação para enfrentar tarifas americanas

Representantes do governo federal reafirmaram nesta terça-feira (29) em audiência pública na Câmara dos Deputados que a estratégia principal do Brasil para enfrentar o aumento das tarifas de importação nos Estados Unidos continua sendo a negociação diplomática.

Diálogo como ferramenta principal

Tatiana Prazeres, Secretária de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, destacou a orientação do vice-presidente e ministro Geraldo Alckmin de que "não há vencedores em uma guerra comercial". "Nós buscamos, com os Estados Unidos, negociar, negociar, negociar. E isso é o que temos feito", afirmou durante sua participação.

A secretária enfatizou que o Brasil demonstra não representar um problema comercial para os EUA, ressaltando que "os Estados Unidos têm um superávit comercial com o Brasil, somando bens e serviços, de cerca de 25 bilhões de dólares. Em contrapartida, o Brasil possui superávit comercial com o mundo e déficit com os Estados Unidos".

Cenário de incertezas

Julia Braga, Subsecretária de Acompanhamento Macroeconômico e de Políticas Comerciais do Ministério da Fazenda, apontou a falta de clareza sobre a amplitude e duração das medidas americanas como um dos principais desafios. "A gente vê um processo fluido, um dia é uma decisão, em outro uma revisão dessa decisão, depois um processo de negociação e de flexibilização", explicou.

Segundo a subsecretária, o Brasil é um dos países menos afetados macroeconomicamente pela atual guerra comercial, graças à diversidade de parceiros comerciais, diferentemente de nações como o México, que dependem fortemente do mercado americano.

Setores econômicos preocupados

O deputado Rogério Correia (PT-MG), proponente do debate na Comissão de Finanças e Tributação, destacou que a estratégia protecionista do presidente dos EUA, Donald Trump, preocupa diversos setores da economia brasileira, como madeira, petróleo, aço, alumínio e agronegócio.

Cristina Yuan, do Instituto Aço Brasil, expressou preocupação com um possível desvio da produção de aço chinesa para o mercado brasileiro, uma vez que "os Estados Unidos recebem cerca de 26 milhões de toneladas de aço de outros países. Com as restrições americanas às importações de aço para todos os países, naturalmente haverá uma tendência de realocar essas 26 milhões de toneladas para países com medidas de defesa comercial não tão robusta".

A economista Renata Filgueiras, do Dieese, analisou que as tarifas de Trump representam uma mudança na política comercial americana, afastando-se do multilateralismo e buscando maior reciprocidade. Para o Brasil, essa situação apresenta riscos de redução de exportações, mas também oportunidades de fortalecer laços com Mercosul, União Europeia e o Brics.