Falta de recursos no SUS compromete avanço da medicina de precisão no tratamento do câncer

26/03/2025 19:00 Central do Direito
Falta de recursos no SUS compromete avanço da medicina de precisão no tratamento do câncer

Especialistas em oncologia alertaram, durante audiência na Comissão Especial da Câmara dos Deputados sobre o combate ao câncer, que a falta de recursos e infraestrutura são os principais obstáculos para a implementação efetiva da medicina de precisão no Sistema Único de Saúde (SUS).

Desafios para implementação da medicina personalizada

Apesar da Política Nacional de Prevenção ao Câncer garantir o direito do paciente a "alternativa terapêutica mais precisa e menos invasiva", o representante do Instituto Nacional de Câncer (Inca), Gélcio Luiz Quintella Mendes, destacou que a incorporação de medicamentos avançados enfrenta barreiras financeiras significativas. Segundo ele, apenas a inclusão dos inibidores de ciclina para câncer de mama representaria aproximadamente 25% do orçamento atual da oncologia no SUS.

Déficit de infraestrutura laboratorial

Luiz Henrique de Lima Araújo, da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (Sboc), ressaltou a ausência de uma rede adequada de laboratórios para testagem molecular no país. "O que temos hoje predominante é uma imunocitoquímica relativamente simples feita nos laboratórios de patologia", afirmou. Ele exemplificou que 40% a 50% dos casos de câncer de pulmão avançado apresentam mutações que, quando identificadas, permitem tratamentos direcionados com controle da doença por anos e qualidade de vida superior à quimioterapia tradicional.

Brasil entre os que menos incorporam novas tecnologias

Renato Porto, representante da Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa (Interfarma), apresentou dados alarmantes sobre o subfinanciamento do setor. Segundo estudo de 2024, o Brasil incorporou apenas 4% dos medicamentos oncológicos disponíveis, enquanto a média na América Latina é de 30%. Países como Colômbia e México incorporaram 40% e 34%, respectivamente. Do orçamento de mais de R$86 bilhões para a saúde pública, apenas cerca de R$14 bilhões são destinados à compra de tecnologias em saúde.

A deputada Flávia Morais (PDT-GO) mencionou que tramitam na Câmara propostas para enfrentar os desafios orçamentários, incluindo projetos relacionados a bitcoins e a criação de uma rubrica específica no Ministério da Saúde para direcionar recursos à oncologia.