Especialistas em oncologia alertaram, durante audiência na Comissão Especial da Câmara dos Deputados sobre o combate ao câncer, que a falta de recursos e infraestrutura são os principais obstáculos para a implementação efetiva da medicina de precisão no Sistema Único de Saúde (SUS).
Desafios para implementação da medicina personalizada
Apesar da Política Nacional de Prevenção ao Câncer garantir o direito do paciente a "alternativa terapêutica mais precisa e menos invasiva", o representante do Instituto Nacional de Câncer (Inca), Gélcio Luiz Quintella Mendes, destacou que a incorporação de medicamentos avançados enfrenta barreiras financeiras significativas. Segundo ele, apenas a inclusão dos inibidores de ciclina para câncer de mama representaria aproximadamente 25% do orçamento atual da oncologia no SUS.
Déficit de infraestrutura laboratorial
Luiz Henrique de Lima Araújo, da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (Sboc), ressaltou a ausência de uma rede adequada de laboratórios para testagem molecular no país. "O que temos hoje predominante é uma imunocitoquímica relativamente simples feita nos laboratórios de patologia", afirmou. Ele exemplificou que 40% a 50% dos casos de câncer de pulmão avançado apresentam mutações que, quando identificadas, permitem tratamentos direcionados com controle da doença por anos e qualidade de vida superior à quimioterapia tradicional.
Brasil entre os que menos incorporam novas tecnologias
Renato Porto, representante da Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa (Interfarma), apresentou dados alarmantes sobre o subfinanciamento do setor. Segundo estudo de 2024, o Brasil incorporou apenas 4% dos medicamentos oncológicos disponíveis, enquanto a média na América Latina é de 30%. Países como Colômbia e México incorporaram 40% e 34%, respectivamente. Do orçamento de mais de R$86 bilhões para a saúde pública, apenas cerca de R$14 bilhões são destinados à compra de tecnologias em saúde.
A deputada Flávia Morais (PDT-GO) mencionou que tramitam na Câmara propostas para enfrentar os desafios orçamentários, incluindo projetos relacionados a bitcoins e a criação de uma rubrica específica no Ministério da Saúde para direcionar recursos à oncologia.