Acesso ao tratamento da obesidade no Brasil enfrenta desafios estruturais no SUS

Em audiência pública realizada na Comissão de Saúde da Câmara dos Deputados, especialistas discutiram os desafios relacionados ao diagnóstico e tratamento da obesidade no Brasil. Os dados apresentados são alarmantes: quase 70% da população brasileira tem sobrepeso e um em cada três brasileiros é obeso.

Obesidade infantil em crescimento acelerado

Segundo dados apresentados pela presidente do Vozes do Advocacy, Vanessa Pirolo, a obesidade infantil cresceu dez vezes nos últimos 40 anos. Entre crianças de 5 a 10 anos, 5,22% têm obesidade grave, 9,38% têm obesidade e 16,33% estão acima do peso. Pirolo destacou que a obesidade é uma condição multifatorial que requer tratamento multidisciplinar, algo que muitos pacientes não conseguem acessar pelo SUS.

Possível inclusão de novos medicamentos no SUS

A Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (Conitec) abriu consulta pública (46/2025) para receber, até 30 de junho, opiniões sobre a inclusão da semaglutida nos serviços de saúde para pacientes com obesidade que tenham histórico de doença cardiovascular e mais de 45 anos. A substância é o princípio ativo de medicamentos como Ozempic e Wegovy.

Aline Lima Xavier, coordenadora-geral de Prevenção às Condições Crônicas na Atenção Primária à Saúde do Ministério da Saúde, informou que o SUS realizou mais de 86 mil cirurgias bariátricas e 11 mil reparadoras nos últimos dez anos. No entanto, segundo Juliano Blanco Canavarro, presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica, entre 2020 e 2024, as cirurgias realizadas pelo SUS corresponderam a apenas 1% dos pacientes elegíveis.

Limitações das políticas atuais

Maria Edna de Melo, presidente da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica, criticou as portarias que orientam o tratamento da obesidade no SUS (424 e 425 de 2013), afirmando que o acompanhamento por apenas dois anos após a cirurgia é insuficiente. Especialistas também destacaram a importância da atividade física e alimentação saudável, alertando que 20% das calorias consumidas no Brasil vêm de alimentos ultraprocessados.

A obesidade, que atinge mais de 1 bilhão de pessoas no mundo, pode desencadear outros problemas de saúde como diabetes tipo 2, hipertensão e doenças cardiovasculares, representando um dos principais desafios de saúde pública da atualidade.