Meta de inflação de 3% é criticada por especialistas em debate sobre juros na Câmara

Em audiência pública promovida pelo Centro de Estudos e Debates Estratégicos da Câmara (Cedes), especialistas e parlamentares criticaram a atual meta de inflação de 3% ao ano, considerando-a excessivamente baixa para a realidade econômica brasileira. Os participantes também questionaram a taxa básica de juros de 15% ao ano, classificando-a como prejudicial ao desenvolvimento econômico do país.

Meta inflacionária considerada inadequada

A presidente do Conselho Federal de Economia, Tania Cristina Teixeira, destacou que o sistema econômico brasileiro funcionou adequadamente com meta de 4,5% entre 2004 e 2018. Segundo ela, a redução gradual para 3% tem exigido esforços excessivos da política monetária, resultando em taxas de juros elevadas que impactam negativamente a dívida pública.

"Cada ponto percentual de aumento da taxa tem um impacto de R$ 50 bilhões na dívida pública", alertou Teixeira, acrescentando que isso representa uma transferência de renda para os detentores de títulos públicos, geralmente os mais ricos, além de desestimular investimentos em atividades produtivas.

Propostas para equilibrar política monetária e crescimento

A economista sugeriu a inclusão de metas de emprego e crescimento no mandato do Banco Central, afirmando que "o desenvolvimento não é uma consequência automática da estabilidade monetária. Ele requer decisões políticas, coragem institucional e uma concepção de economia que está a serviço de todos".

O deputado Mauro Benevides Filho (PDT-CE) endossou a posição de que a meta de inflação poderia ser maior, criticando o foco excessivo nas despesas primárias do governo enquanto as despesas financeiras são negligenciadas no debate econômico.

Impactos nos investimentos produtivos

O professor Antonio Lacerda, da PUC de São Paulo, argumentou que grande parte da inflação atual está relacionada a problemas de oferta, não ao aumento da demanda, tornando o aumento das taxas de juros uma medida ineficaz.

Ricardo Capelli, presidente da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), informou que, apesar das altas taxas de juros, a taxa de investimento no primeiro trimestre cresceu 9% em relação a 2024, principalmente devido aos empréstimos do BNDES e ao uso de recursos próprios das empresas.

Já Fábio Guerra, representante da Confederação Nacional da Indústria, apresentou dados indicando que os investimentos industriais poderiam ser acrescidos de R$ 210 bilhões em 12 meses caso a taxa de juros fosse reduzida para 10,57% ao ano, considerada pela CNI como a taxa de equilíbrio atual.